Já li em alguns lugares sobre
lista de motivos pelos quais viajar acabou com a vida de alguém, então eu
decidi fazer a minha própria lista.
Tudo começou em Dezembro de 2010
quando embarquei para um intercâmbio de 03 meses em Londres, com apenas 20 anos
de idade, mal sabia que estava prestes a mudar radicalmente minha vida.
Palácio de Versalhes - Paris |
1. Perrengues que fazem crescer fora da
Zona de Conforto
Lembro certinho eu chegando ao aeroporto de
Londres, com uma mala tamanho família, uma pastinha na mão cheia de documentos
e morrendo de medo da imigração. O primeiro desafio foi preencher o papel com
várias informações em inglês, eu consegui errar 4 vezes – sem exagero – por
conta do nervosismo e de estar sozinha naquela situação. Vários outros como
sair de casa muito cedo – ainda escuro – para ir para escola embaixo de neve e
muito frio; andar pela primeira vez de metrô sem ter ideia em qual estação ter
que parar; voltar para casa de madrugada de ônibus; fazer roteiros de como
chegar; o que fazer no lugar;, como se locomover; comer; onde dormir; se o
dinheiro vai dar para passar o resto do tempo que você pretende ficar (...)
Todos esses detalhes que fazem uma viagem inesquecível e única, que você só
vive fora da sua zona de conforto. Mas nem sempre é fácil se manter fora da
zona de conforto, muitas vezes sem perceber já estamos em uma, criamos rotina e
de repente estamos presos novamente ao que a sociedade nos impõe. O jeito é
acharmos o equilíbrio entre uma coisa e outra, tarefa difícil né? Mas levo pra
minha vida como um exercício diário, dia após dia, tente você também... Aos
pouquinhos chegaremos lá!
2. Sensação de liberdade
Talvez no começo pareça desesperador o fato
de você estar com pessoas de outras culturas, outras línguas e outros hábitos
que você, mas com o passar dos dias essa sensação de liberdade de poder ir e
vir pra onde quiser e se sentir dona do “próprio nariz” é fenomenal. Além
disso, você ser quem você quiser, vestir o que se sentir melhor e ter o cabelo
da cor que bem entender, são exemplos do cotidiano na cultura Londrina e foi
por esses e outros motivos que me apaixonei pela cidade, pela capacidade de
fazer você se sentir: LIVRE. Vamos combinar que não é mole encontrar essa
sensação em qualquer lugar não é mesmo? A maioria estabelece padrões a serem
seguidos, o que entra diretamente em conflito com o que vivemos naqueles dias leves.
Por isso, não é fácil não!
3. Não conseguir ter raízes
Quando você está fora fica acostumado a
fazer e desfazer malas, dormir com a galera e não ter muita privacidade, sempre
ter alguma coisa nova pra conhecer e explorar e muitos amigos para dividir os
momentos incríveis. Quando voltamos pra vida real temos que nos readaptar a
criar raízes, claro que como tudo na vida, tem o lado bom, mas logo você começa
a sentir falta de não planejar muito as coisas, de não ter um emprego fixo por
muito tempo, de não querer comprar uma casa porque se sente preso então prefere
viver de aluguel, etc.
4. Desapego
de bens materiais
Acredito que a maioria das pessoas tem o
desejo em comum de querer ter uma casa própria, um carro, uma roupa de marca,
um eletrônico da moda, um celular com muitas funções... Mas, para quem fez
intercâmbio a vontade de ter esses bens diminui muito uma vez que a única
importância resume-se em: juntar dinheiro para a próxima viagem. E por que isso
acabou com minha vida? Simplesmente porque ter o sonho de “conhecer o mundo” é
bastante abstrato e a sensação é de estar sempre insatisfeito com tudo e só
importa uma coisa na vida: conhecer o máximo de lugares que você conseguir,
deixando os bens materiais e “sonhos comuns” de escanteio e se tornando uma
pessoa esquisita para quem está de fora e não viveu essa experiência.
5. Faz você se sentir um peixe fora d’água
quando volta
Impossível esquecer o momento em que eu
entrei no avião para voltar ao Brasil, peguei o telefone e liguei - ali no
avião mesmo - para uma grande amiga que tinha feito durante a viagem, chorando,
aos prantos, falando a seguinte frase entre soluços: “Eu não quero voltar!”
Mas, eu voltei. Além do dinheiro ter acabado
eu precisava terminar a faculdade, e era totalmente fora da minha realidade
continuar vivendo aquele sonho de ter como preocupação: ir para escola de
inglês, sair e ir conhecer algum ponto turístico, programar viagens com os
amigos novos, contemplar aqueles cenários de filme – falava isso toda hora -,
tomar um chocolate quente no meio da rua com a fumacinha saindo da boca –
achava um charme - , ver a neve pela primeira vez, procurar a balada mais legal
do dia – e que fosse barata -, enfim, tudo era novidade, tudo era maravilhoso.
Chegando à realidade, a readaptação não foi
fácil (não é até hoje, diga-se de passagem). Para a maioria das pessoas que eu
conversava, contava as experiências e a minha “depressão pós-intercâmbio”, não
conseguia compreender. Então, com o passar dos dias eu me sentia
cada vez mais um peixe fora d’água, sem conseguir interagir com as pessoas e
lugares, pois havia uma coisa que não saía do meu pensamento: “quero viajar
mais, quero voltar, aqui não é mais o meu lugar.”
Parece meio
melancólico tudo isso, mas vejo pelo lado positivo, de sempre ter me
impulsionado a não ficar parada, não se acomodar, sempre querer algo diferente,
afinal de contas dessa vida não levamos nada além dos sentimentos e
experiências vividas.
Alguns questionamentos sempre estiveram presentes no meu dia a dia: Será que estou sozinha nisso tudo? Será que só eu me
sinto esquisita assim? Será que o intercâmbio realmente acabou com a minha
vida?
Seja qual for a resposta, eu não mudaria nada do que já vivi até hoje!
Eu não me considero a mesma pessoa que embarcou naquele aeroporto rumo ao frio Europeu, voltei com a bagagem cheia de reflexões, ideias, novos sonhos, vontades, menos julgamentos e preconceitos. Além de muitos planos para novas viagens, é claro. E você, voltou o mesmo? Me conte, não me deixe sozinha nessa! rs
Após Londres, estive 40 dias na África do Sul, acha que eu sosseguei? Jamais. Continuo programando qual será a minha próxima parada.
Após Londres, estive 40 dias na África do Sul, acha que eu sosseguei? Jamais. Continuo programando qual será a minha próxima parada.
Eai, bora?
Livia Zanon
@omundoeminhasvoltas
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