Durante a sua viagem sobre duas rodas pelas Américas, o motociclista
Eduardo Ávila encontrou um tempinho para fazermos uma entrevista sobre
curiosidades e dicas para quem também tem essa vontade de cair no mundo.
Campo-grandense, atualmente com 25 anos, formado em Administração de Empresas,
resolveu aos 22 anos partir para uma aventura que mudaria sua vida em vários
aspectos. Quer saber mais? Confira aqui embaixo o nosso bate papo.
- Eduardo,
de onde veio essa ideia de viajar sozinho de moto? Há quanto tempo está
viajando?
A minha primeira ideia foi caminhar até o Ushuaia, mas
se fosse caminhar levaria muito tempo, então acabei desanimando. Pensei em ir
de bicicleta, mas não tinha preparo físico o suficiente, foi quando eu ganhei
uma moto e pensei: Por que não?!
Fui de moto de Campo Grande - MS para Bonito – MS percorrendo o total de
905 km. Passei por diversas dificuldades por não ser experiente, mas foi
determinante para decidir que seria a primeira de muitas viagens que viriam.
Em 2012 embarquei para o meu primeiro mochilão para o Peru e
gostei demais, planejei muito bem, fiz um roteiro diferente que turista
geralmente não faz e vi que levava jeito. Sempre senti que eu tinha um
propósito de vida maior, então continuei na entrada.
Em seguida decidi participar do IBA - Iron Butt Association, que é uma
Associação Americana que premia quem completa o desafio de pilotar mais de
1700km em menos de 24h e o percurso foi: Saindo de Campo Grande – MS, passando
por Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, parte de São Paulo voltando para Campo
Grande. Saí sábado às 11h da manhã e voltei às 7:20h da manhã de domingo
fazendo 1808 km em 20h e 20 min. Foi bem difícil e não faria novamente, me
alimentei com lanches que levava na moto mesmo, e as necessidades fisiológicas
fazia no mato, na própria rodovia e nunca em postos de gasolina, o motivo? Deixar
a minha marca por onde passava.
Nada disso foi muito planejado, as coisas foram acontecendo, eu também
não tinha muita experiência com moto, aprendi tudo na vivência. A princípio, a
ideia era viajar com minha ex-namorada, mas ela acabou não indo então decidi ir
sozinho, mesmo os meus pais sendo contra a decisão.
Curiosidade: Eduardo é muito
sensitivo, se ele acorda e sente que não deve viajar, ele não vai, por isso
acha melhor viajar sozinho, fazendo seus próprios horários e roteiros. Ele está
viajando há 25 meses e o plano é voltar em Dezembro ao Brasil.
- Como
você faz para se sustentar e pagar seus custos?
Eu tocava em bares em Campo Grande e fui juntando dinheiro para poder sair do Brasil, consegui 800 dólares. No início viajei através do Couch Surf, que é
uma rede social que faz a ponte entre turistas que querem hospedagem grátis
durante uma viagem e pessoas que querem receber esses visitantes. Mas, com o
tempo fui ficando conhecido como “Brasileiro Louco” e foi
quando abandonei o Couch Surf e ficava em casa de amigos.
Quando cheguei ao Peru, me informaram
que eu tinha que vender alguma coisa para conseguir renda e me sustentar, por
exemplo: adesivos da minha marca e soldar peças velhas para construir motos
para vender como souvenir. Antes de tentar fabricar alguma coisa eu tentei
fazer a divulgação em um site que arrecada fundos para alguma causa, mas
arrecadei muito pouco porque tinham muitos impostos e taxas.
Já trabalhei vendendo adesivos da minha marca, mini motos feitas de
peças velhas, pedreiro, cortador de uvas e hoje em dia eu vendo em eventos de motos a minha história além dos itens que eu aprendi a fazer, incentivo as pessoas em viajar, conto curiosidades e com isso consigo doações para continuar seguindo na estrada. Felizmente muita gente topa em ajudar por
não poder realizar esse sonho de viajar então contribui para eu realizar o meu.
- Qual
sua expectativa na vida? Aonde quer chegar? Pretende voltar ao Brasil?
O que me chama atenção no Brasil é minha família, se fosse pra voltar um
dia definitivo eu gostaria de ter uma Moto Pousada que
acolheria todos os viajantes que passassem por Campo Grande - MS, sempre com o
intuito de ajudar o próximo com doações. Vejo minha cidade como um ponto
estratégico tendo em vista estar perto de algumas fronteiras e até hoje não tem
nada parecido por lá. Pode não me trazer um bom retorno financeiro, mas
me trará realização pessoal, e pra mim é o que importa.
Curiosidade: Eduardo sente
muita falta de um banheiro limpo e de seu travesseiro que usava no Brasil.
- Qual foi a maior conquista
que você teve até hoje viajando? O que você mudou como pessoa?
Considero todo dia uma conquista. Saber que sobrevivi ao dia anterior,
ter saído da América do Sul, trabalhado nos EUA, chegado na Colombia, viver
viajando com a namorada, são exemplos de conquistas que tive até hoje.
Mas, a maior de todas, foi chegar ao Ushuaia no inverno
passando por menos de 16 graus, sem experiência com moto, em estrada congelada,
com neve e chuva. Mudei em alguns comportamentos, me sinto mais irritado e com
pouca paciência para as coisas, por outro lado aprendi a ser mais humilde. O
País que mais me surpreendeu foi o Peru, pessoas generosas e atenciosas sempre
dispostas a ajudar e isso me fez crescer muito como ser humano.
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Eduardo, namorada e amiga |
- Qual
o maior cuidado que alguém deve ter se quiser pegar a estrada como você? O
que você carrega na mochila que considera itens essenciais?
Eu aconselho a ser esperto, prestar atenção nas pessoas, nos
lugares, ser malandro e desconfiado. Carrego comigo um cordão de aço e um
cadeado na calça, canivete, sistema de chaves, papel higiênico, adaptador de
tomada, isqueiro, alicate, moedas e dinheiro do Brasil que uso quando não tenho
dinheiro do local então ofereço em troca de comida, protetor de ouvido
para barulho, barra de cereal, álcool em gel, lenço umedecido, também carrego
xerox dos documentos e não o original, água, lata de atum... É preciso carregar
um pouco de tudo para qualquer emergência.
É importante guardar bem o dinheiro, usar uma pochete por dentro da
roupa com dinheiro ou no sapato. Não andar com roupa boa, nem mochila limpa
pois chama atenção para roubos e assaltos.
Ah, e sempre que chegar a um País, pedir o prazo máximo que pode ficar
para não ter problemas futuros. E claro, muito cuidado onde for comer e a água
que for tomar.
Curiosidade: Durante nossa
entrevista, mesmo com todos esses cuidados sendo tomados, Eduardo teve sua
mochila furtada, o que causou vários transtornos e até mesmo prejuízo
financeiro.
Gracias Dutz, por ter cedido um tempo ao Projeto
- O Mundo e Minhas Voltas, foi demais te entrevistar e saber mais sobre a sua vida, tenho certeza que a sua história
vai inspirar e encorajar muitos que queiram se aventurar também por esse
mundão. Desejo que você tenha ótimas voltas e quando passar aqui pela Bahia não
esquece de me avisar pra colocarmos o papo em dia! :)
Hasta luego mi amigo!
Ficou curioso e quer saber mais sobre a vida sobre duas rodas de Eduardo Ávila ou até mesmo ajudá-lo com alguma doação?
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